O dramaturgo Ingmar Bergmam através de uma série conhecida como “Trilogia do Silêncio” soube registrar com fidelidade a “ausência” de Deus em nossa época e cultura.
A incredulidade “Bergmaniana” não é deliberada, os dedos não estão em “riste” contra Deus. É a incredulidade das perguntas e sondagens, da procura por um Deus que parece estar em algum lugar, e que talvez possa ser encontrado.
Essa incredulidade “passiva” é também incredulidade, mas tem um característica diferente, é conseqüência da dúvida. Não a dúvida que nega por negar, mas aquela que procura um vestígio, uma sombra na penha, um toque nas vestes.
Geralmente tal tipo de dúvida gera no “incrédulo” um complexo de culpa por não crer como os demais. Para uma sociedade que a fé virou negócio, cheque em branco assinado por Deus, não crer é ser condenado com os hereges, passível de inquisição com direito a “Bis”.
A carta aos hebreus tem na perspectiva antropológica o tema da fé. Os destinatários se encontravam em crise, precisavam de evidências de que há um Deus presente na história, ou se o mundo era dirigido por piloto automático.
Em Hebreus Deus é demonstrado na horizontal, ele caminha no compasso da criatura, se aproxima do que sofre, vivencia sua dor, calça seus sapatos. Ele não está em silêncio, fala, se comunica, se transporta e se torna gente, tão carne e sangue que vive e morre com homem.
Paradoxalmente, aquilo que o tornou tão próximo dos homens, o “escândalo” de sua humanidade tem mais afastado do que atraído os filhos de Adão.
Por ser simples e profundo, impossível e possível, crível e incrível, a mente cartesiana não pode suportar. É de tal aparente contradição que surge a fé, pois como disse um santo do passado: Creio porque é absurdo. É esse Deus simpático que convida cada sofredor a “chegar mais”. Ele tem uma maneira especial de oferecer graça e socorro para aqueles que perderam o vigor, e isso em cada fraqueza e circunstancia experimentada.
Ter fé não implica necessariamente a ausência de dúvidas, antes, é sua constante superação. É através da dialética fé e não fé que a fé se vitaliza. Sem a tensão constante de crer e não-crer a fé se acomoda e distende, perde seu vigor, justamente porque não tem ao que lhe opor.
Como Abraão que cria contra a esperança a dúvida pode ser propulsora, ela remete o fiel a crer e a buscar mais do que sente ou vê. É sempre no “nada” de cada momento que Deus intervem e acontece no aqui-agora de cada um (Romanos 4:17 e 18).
Portanto, não defina sua vida pelo tamanho de sua fé, mas pelo tamanho de seu Deus. O justo não vive somente pela fé, mas de fé em fé. A fé não é destino, mas, percurso. É sempre através da segurança de cada passo e jornada que se alimenta a caminhada até a fronteira final, o lado de lá.
Pr. Edmilson Tavares